Rio de Janeiro, Brasil

Cidade Água

A versão brasileira do projeto Commons & Communities traz como eixo central a cidade. Cidade como plataforma para o desenvolvimento possível de comunidades e de seus bens comuns. Cidade não apenas como território geopolítico de dimensões públicas e privadas, mas como um corpo coletivo, uma manifestação concreta das dinâmicas harmônicas ou desarmônicas das comunidades coabitantes. Esse eixo central se desdobra em três conceitos associativos: Cidade Água, Cidade Comida e Cidade Bem Viver.
Photo by Guto Santos.

Água como símbolo primeiro de todos os recursos, como elemento primordial da vida.

Comida como objeto simbólico do metabolismo desses recursos, base nutricional para o desenvolvimento biológico e como elo entre a comunidade e os bens comuns. Por ser o objeto do plantio, cultivo, colheita, armazenagem, preparo, ingestão e descarte. Além de objeto potencial da guarda das tradições culturais de uma comunidade.

Bem viver (um conceito ancestral dos povos originários americanos) como símbolo da acessibilidade aos recursos metabolizados, possibilidade de estruturação de comunidades equânimes, dignas, saudáveis e felizes. Que preservam suas tradições culturais e podem usufruir de seus recursos primordiais.

Não se pretende com isso restringir qualquer desenvolvimento processual, ao contrário, cada um deles servirá como fio condutor, norteando o seu desenvolvimento.

Demos início ao primeiro dos três conceitos (cidade água), no segundo semestre de 2021, com a intenção de ativarmos o segundo (cidade comida) no primeiro semestre de 2022 e o terceiro (cidade bem viver) no segundo semestre de 2022. O primeiro semestre de 2023 será a etapa de preparo e organizado final de todo conteúdo produzido.

Ainda não está claro para nós se cada um dos conceitos terá seu projeto especifico, ou se serão fases distintas de um mesmo projeto. O que temos, para além das incertezas, são as redes se solidificando, os processos existentes sendo compartilhados (e em breve formatados para esta plataforma), os desejos e sonhos comuns sendo acordados – e aqui é importante deixar claro que, mesmo sobre condições precárias e urgentes, desejos e sonhos estão além das necessidades.

Este será o método do primeiro projeto ao vivo: uma coisa que ativa outra, que ativa outra… fluida, maleável, sem forma pré-definida, generosa, abundante ou escassa. Água.

#agentemuda

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SÍMBOLO DO BRASIL E DA INTEGRAÇÃO ENTRE AS CIDADES DO MUNDO A PARTIR DE NOVOS PARADIGMAS, QUE TRAZEM COMO PILARES FUNDAMENTAIS A DIVERSIDADE E A SUSTENTABILIDADE.

A flor do Ipê Amarelo é o símbolo nacional (conforme Decreto de 27 de junho de 1961 – Presidente Jânio Quadros).
Uma vez ao ano, durante poucos dias, essa árvore extraordinária perde todas as folhas e seus galhos são completamente tomados pelas flores amarelas que a transformam em um exuberante e poderoso farol natural, que se destaca em qualquer contexto.
Esse ano de 2020 o Ipê Amarelo tornou-se também símbolo de uma rede de cidades globais que iniciou no Rio de Janeiro, tendo como motivo o título de Primeira Capital Mundial da Arquitetura chancelado pela UNESCO e a UIA, chegou a Copenhagen na Dinamarca e aos poucos conquista todo o planeta.
Essa árvore simbólica teve uma muda de Ipê Amarelo real, que precisa ser plantada, regada e cuidada para poder florescer ano a ano para todos os povos do mundo.

OBJETIVO DA AÇÃO
Criação de uma contra narrativa que “reinaugura o mundo” a partir de uma favela Brasileira (a Rocinha).

LOCAL
Escola Municipal Luiz Paulo Horta, Rocinha, Rio de Janeiro – RJ, Brasil.

PÚBLICO
Crianças (estudantes de 6 a 12 anos), professores, moradores, colaboradores e apoiadores do projeto.

DATAS
1º dia -16 de setembro de 2021


2º dia – 21 de setembro de 2021 (dia da árvore, abrindo a primavera)

Workshop CIDADE ÁGUA

Published byguto santosin

Nos dias 17 e 18 de agosto de 2021 realizamos o Workshop Cidade Água seguindo a estrutura proposta no dia da primeira reunião do projeto. Abrimos com a Fala do diretor do Instituto, Anders Hentze, apresentando a plataforma, seu design e estrutura de funcionamento. Do mesmo modo como aconteceu um mês antes, durante sua inauguração no Simpósio Community Architects, dentro da programação do Congresso Mundial de Arquitetos UIA2021RIO.

Em seguida comentei sobre a estruturação do projeto a partir dos 3 conceitos: Água (simbolizando os recursos), Comida (metabolismo a partir dos recursos) e Bem Viver (acessibilidade aos recursos e seu usufruto, ou metabolismo). Expliquei que a escolha desses elementos tangíveis, significantes, tem o objetivo auxiliar no entendimento das estruturas conceituais, mas de forma alguma limitá-las.

Ouvimos os relatos de moradores que atuam de formas distintas, porém conexas, no território da Rocinha. Na conservação da memória e narração de uma história contada a partir de falas locais, na produção de respostas para a urgência das demandas do presente, ou ainda, no modo colaborativo de pensar futuros possíveis.
Por fim pudemos assistir uma breve apresentação de um projeto desenvolvido em parceria entre iniciativas locais e universidades no Complexo da Maré, outro conjunto bastante relevante na formação cultural da cidade do Rio de Janeiro. Na Maré, assim como na própria cidade, até o nome está ligado a esse precioso recurso que é a água. Mais que uma apresentação, foi feito um convite para expandir o projeto à Rocinha.

No segundo dia, o diálogo foi conduzido por falas de fora da Rocinha. Abrindo com um relato sobre a complexa rede de colaboração muito bem articulada, que se estrutura em Cali na Colômbia, nesse momento.
Além desse, foram apresentados outros projetos como o Mão na Jaca, ação que se apropria da abundância do fruto exótico presente nas matas da cidade. Abundância tanto de quantidade, quanto de possibilidades nutricionais, econômicas, ecológicas e culturais.
O Vale Encantado, uma pequena e secular comunidade localizada no Alto da Boa Vista no Rio de Janeiro, onde suas diversas e geracionais atividades econômicas que partiram de culturas agrícolas de alimentos, café, flores, extrativismo mineral, chegam aos dias atuais como um exemplar ciclo de integração ecossistêmica, pela utilização de biossistemas diversos, produção de alimentos orgânicos agroflorestais, turismo ecológico, etc.
As iniciativas do Galpão Aplauso que transformam jovens de periferias do Rio de Janeiro e de todo o Brasil, em profissionais bem qualificados nas diversas áreas das artes e da cultura, através de metodologias que dissipam o hiato periferia-centro.
O último depoimento veio de uma voz vizinha, do Vidigal, favela que divide o Morro Dois Irmãos com a Rocinha, lançada às encostas que desaguam diretamente no mar. O projeto apresentado ali foi um telhado verde que serve como abrigo de transporte público, coberto por ervas medicinais que protegem, embelezam e se colocam disponíveis a todo morador ou passante.
Nem todos os convidados puderam estar presentes nos dois dias. Mas acredito que os ganhos do encontro remoto tenham superado em muito as dificuldades de agendas e fuso horários antes de difícil compatibilidade para um encontro como esse.

Reunião de iniciativas participativas

Published byguto santosin

1º encontro – Convite ao processo – Cidade Água

Foi em 29 de junho de 2021, ainda durante o 27º congresso mundial de arquitetos UIA2021RIO, que iniciamos o primeiro projeto brasileiro ao vivo para a plataforma acumulativa Comunidades & Bens Comuns (nome do projeto Commons & Communities no Brasil). Convidamos muitas pessoas para uma conversa sobre os primeiros entendimentos do que seria a proposta da plataforma expositiva que estava sendo construída, com vistas à próxima versão do congresso, a se realizar em 2023 na cidade de Copenhagen, Dinamarca.

Entre os convidados estavam artistas, sociólogos, antropólogos, cientistas políticos, professores universitários e pesquisadores de muitas áreas, arquitetos, urbanistas, historiadores, engenheiros, representantes do poder público, ativistas sociais, urbanos e ecológicos. Dentre eles, alguns residentes da favela da Rocinha.

A Rocinha, que em português significa algo como, uma pequena parcela de terra cultivada, é um bairro da cidade que, dentre muitas qualidades, explode em soluções territoriais a partir de formas engenhosas de ocupação dos espaços, produzidas quase exclusivamente por seus habitantes. Infelizmente esses espaços engenhosos, são também altamente precarizados dada à histórica e estrutural ausência do Estado, que pela própria inação tornam escassos, ou inexistentes, recursos fundamentais como o fornecimento de água, o recolhimento dos resíduos sólidos, o manejo de águas pluviais, o tratamento do esgoto sanitário, a acessibilidade ao meio físico, e mais uma série de questões cujas soluções extrapolam o alcance da simples produção local.

A Rocinha localiza-se nas encostas de uma bacia hidrográfica de grande concentração de águas, aos pés do Parque Nacional da Tijuca (uma das maiores florestas urbanas do planeta). Ali chove muito. Por isso também a insalubridade gera um dois maiores índices de tuberculosa das Américas. Nesse mesmo lugar, cercado por três dos bairros de maior concentração de renda per capta e IDH do país (São Conrado, Gávea e Leblon), é constante se ver pessoas carregando baldes de água morro a cima, pela falta d`água, que ainda hoje chega a durar semanas, frequentemente.

Voltando a reunião de junho, naquele momento o projeto ainda não tinha sequer um nome ou mesmo uma linha conceitual traçada. O que havia era o interesse, por parte de nós, os organizadores, de que se iniciasse um novo processo colaborativo a partir de diversas experiências preexistentes e de seus realizadores. Além disso, acreditávamos que os principais colaboradores e interessados em seguir o processo se auto selecionariam. Por isso o amplo convite que fizemos. Pois assim os próprios convidados poderiam ser fonte de persuasão do engajamento dos outros.

Saí motivado para um novo encontro, encaminhado ali mesmo, com a colaboração das diversas vozes presentes e já com data marcada.

Em seguida coloco a transcrição de um trecho da fala do professor Cunca Bocayuva que cria uma espécie de síntese do que se falou nesse dia:

“Eu entendi que estamos em sintonia com o debate da arquitetura e do urbanismo que se processou na cidade ao longo do tempo e com as experiências de mobilização produtiva, democrática, tecnológica dos territórios com centralidade na favela. E entendi que o objetivo é trazer um pouco de um conjunto de referências plásticas, técnicas, imaginárias, subjetivas, etc, a partir da experiência do Rio de Janeiro para levar para Copenhague quando do Congresso Internacional de Arquitetura e Urbanismo.

E entendi que vamos tomar e valorizar as referências das experiências territoriais da centralidade da favela levando em conta o destaque pra a Rocinha, levando em conta essa mobilização e o diálogo com a Rocinha. Claro que perguntando à Rocinha se ela quer ser isso, se ela quer ser a interlocutora metodológica deste debate, dos Comuns, visando ter a presença estética, política, técnica, urbanista, arquitetônica, de design e popular em Copenhague.

Quer dizer, esse espaço será ocupado a partir da subjetividade de corpo, território e tecnologia que parte da centralidade da periferia. Assim que eu entendi o paradigma, a metáfora e a tecnologia da jaca, os temas que estão sendo desenvolvidos pelo NIDES e Soltec, as experiência de articulação social e comunitário, os mandatos mobilizados, o plano de enfrentamento da COVID nas favelas, todo esse ambiente estratégico, todo esse ambiente da cidade, fora o fato que essa cidade está marcada por uma violência em um grau inusitado desde o Massacre do Jacarezinho e tudo que vai acontecer, mas entendi que tem uma sintonia com a centralidade da favela.

Levando em conta, depois o que pode se fazer como produto, estético, plástico, etc, tenho a ideia de a gente conhecer a experiência desses objetos demonstrativos e virtuais que os dinamarqueses produziram. Entendi isso, que isso é parte de um acervo, de uma mobilização estética, visual, etc, que seria interessante ver, por exemplo. A gente não tem uma maquete da Rocinha, por exemplo, construída, que relê a cidade a partir da Rocinha, a gente nunca viu a cidade a partir da Rocinha, a gente vê a Rocinha a partir da Gávea, de São Conrado etc. Quer dizer, a gente não tem mapas que leem a cidade, a gente não tem maquetes, a gente não tem nada que faça uma contra leitura da cidade. Acho que de alguma maneira eu vejo como uma oportunidade de pensar o comum nos termos que foram colocados, sempre com as ecologias que estão colocadas aqui, a centralidade da água, e essa metodologia que falaram que vai levar em conta a voz dos atores populares.”

Guto Santos
Architect & Urban Planner
Arquiteto e urbanista (FAU-UFRJ), pós-graduação pela Universitat Politècnica de Catalunya em Barcelona, mestrado em arquitetura paisagística (PROURB-UFRJ). Guto tem atuado bastante em processos participativos de ativismo urbano, como o coletivo Baixo Rio que criou em 2017. Foi coordenador de projetos de engenharia e arquitetura e superintendente na Secretaria Estadual de Infraestrutura e Obras do Governo do RJ, e hoje está à frente da coordenação geral do congresso UIA2021RIO.
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