Curiosidade: em português, o nome “Instituto Agente Muda” significa tanto o Instituto “nós mudamos”, o Instituto “agente de transformação” e até mesmo o Instituto “Agente de Mudas” - além do significado em inglês de “I Am” [eu sou].
CIDADE BEM VIVER – A cerimônia de fundação aconteceu na Biblioteca Parque Estadual do Rio de Janeiro, lugar simbólico relevante, recém inaugurado após um longo período de fechamento, anterior a pandemia que começou em 2020.
Foi uma reunião híbrida, não só pelo recurso tecnológico que possibilitou um encontro presencial e digital simultaneamente, garantindo a participação de fundadores de outros lugares da cidade e até de outras cidades e Estados, como no caso de Anders Hentze, diretor do Instituto Cultural da Dinamarca no Brasil, peça fundamental para a realização do instituto. Mas, principalmente, o que tornou o caráter híbrido da reunião um valor de relevância foi a presença de um não humano, uma muda de Paineira, árvore nativa da região, como ator central que deu sentido ao que se propunha fazer.



Agente Muda é uma resposta institucional aos objetivos praticados por seus fundadores. Esses objetivos dizem respeito, menos às ações de plantio vegetal do que, ao incentivo de um reflorescimento para o cidadão que pratica a cidade. Isso inclui adultos, crianças, animais, vegetais, minerais, idéias e tudo mais. Todos em relação uns com os outros e com o conjunto de suas paisagens habitadas, e é nesse lugar que se instala a arquitetura da cidade proposta pelo novo instituto. Título justo, o de Capital Mundial da Arquitetura, para um lugar onde se tenta agir dessa forma.
A muda de Paineira foi plantada no domingo, dois dias depois da assembléia inicial. O lugar escolhido foi uma encruzilhada de grande relevância na história da cidade. Sempre tratado como travessia de núcleo vazio, o chamado Trevo das Forças Armadas, limite natural da cidade colonial, encontro da água doce dos rios com a água salgada da Baía de Guanabara que formava um imenso manguezal, foi entrada de invasões à cidade, fonte de abastecimento de água para navios, até se tornar cruzamento entre alguns dos principais eixos rodoviários cariocas e ponto limite de intervenções urbanísticas definidoras da cidade. Ponto cego, no coração da paisagem emblemática do Rio de Janeiro. A muda número um revela essa contrapaisagem até então invisível.





O I AM surgiu do projeto Commons & Communities a partir da ação #agentemuda, entrelaçado com o Projeto Vida Local e com as ações que se misturam com outros movimentos realizados por seus fundadores desde muito tempo. Dentre eles o coletivo Baixo Rio, o Movimento Escoteiro e outros tantos.
O fato de um dos fundadores do I AM ter ajudado a criar, quase simultaneamente, o coletivo Amigos do Parque Ecológico da Rocinha, que se liga também à #agentemuda, faz com que o I AM seja um parceiro direto do APER.
Essas redes de associações voluntárias são as estruturas que sustentam a arquitetura da cidade que se pretende incentivar.
Como no caso do reinício do projeto Vida Local Rio em 2022, que pode contar com o I AM como organização local capaz de dialogar oficialmente com o poder público, empresas, universidades, comerciantes e até moradores, viabilizando a produção e coordenação para sua realização.









Tendo sido o agente local proponente e executor do projeto dinamarquês, o Instituto Agente Muda teve autonomia para tomar decisões repentinas e recalcular rotas ao longo do processo, sem que para isso fosse necessário desvirtuar a proposta original do projeto. Para exemplificar, comentaremos rapidamente duas situações ocorridas durante a realização do VLR2022, muito distintas entre si, onde foram necessárias essas tomadas de decisões repentinas:
A primeira diz respeito ao desejo do I AM de marcar a primeira etapa de conexões e acordos com as partes interessadas, oferecendo como presente, mudas de árvores para cada participante. Conseguiu-se que a prefeitura doasse mais de uma centena de frutíferas que estavam em um sítio nos limites rurais da cidade. Mas o custo do transporte inviabilizaria a aquisição, então se resolveu tentar colocá-las no carro compacto de um dos integrantes e deu certo, o pequeno carro transformou-se em uma pequena floresta tropical móvel, cruzando a cidade por pouco mais de uma hora. Só não havia onde, deixar o presente de conclusão da etapa. Então o instituto resolveu projetar e executar esse suporte, poucos dias antes do encontro. A estrutura modular desmontável e compacta recebeu o nome de Mesa Primavera.
Outra situação repentina foi o desaparecimento de um grafite que se localizava na fachada da casa em frente ao local escolhido para a ação da segunda etapa. A imagem do rosto de um homem e os dizeres “Teli eterno”, foi apagada, deixando seu rastro inquestionável à vista. O ato, sem autor identificado, foi denunciado por muitos moradores enfurecidos após a postagem em redes sociais de um vídeo onde um dos organizadores do I AM chamava a população para participar do projeto. A postagem, com o rastro do grafite ao fundo, fez a população concluir equivocadamente que a se tratavam dos autores do apagamento. “Teli eterno” referia-se ao nome do comerciante que ficava na casa onde estava o grafite. Teli, um sujeito muito querido pela população, foi vítima da Covid 19.
O grafite, de autor tão anônimo quanto o de seu anulador repentino, segundo relatado pela própria filha em resposta à postagem reveladora, era uma reverência que tentava manter presente a memória de um homem que desapareceu trágica e repentinamente da paisagem comunitária. No mesmo dia do burburinho na rede que colocava o projeto sobre suspeita, o I AM comprometeu-se a resgatar de alguma forma aquela memória e no dia seguinte foi pintada a nova frase “ATELIETERNO” em uma sequência de quatro vezes, onde as cores definiam diferentes significados ao mantra de ovação. “ATELIETERNO”; “ATELIÊ TERNO”; “ATÉ LI ETERNO”; “À TELI ETERNO”. A expressão acabou sendo também adotada como nome do espaço temporário do Centro Democrático e Sustentável de Design Urbano – CDSDU, proposto pelo projeto.
O bairro escolhido para o VLR2022 foi o mesmo onde está o Trevo das Forças Armadas e a Muda número um.
Seguem-se diálogos por uma estruturação daquele espaço berço que floresceu com ações do projeto C&C.
Sem premeditar um futuro desconhecido, o I AM segue projetando seus desdobramentos na ação presente.










